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sexta, 23 de maio de 2025
Injúria racial

Lideranças de São Carlos aprovam prisão de Miguelito, jogador do América Mineiro

Para ex-presidente da OAB e vereadora, prisão de atleta do Coelho foi acertada e esperam que caso sirva de exemplo para a categoria

06 Mai 2025 - 14h21Por Da redação
O jogador boliviano Miguelito: cria do Santos e agora no Coelho, jogador protagonizou situação inusitada ao ser detido por injúria racial - Crédito: Foto: Reprodução/Instagram/Mourão Panda/América-MGO jogador boliviano Miguelito: cria do Santos e agora no Coelho, jogador protagonizou situação inusitada ao ser detido por injúria racial - Crédito: Foto: Reprodução/Instagram/Mourão Panda/América-MG

Pela segunda vez na história recente do futebol brasileiro um jogador profissional foi preso pelo crime de injúria racial. O meia Miguelito, do América-MG, FOI preso em Ponta Grossa em razão do crime de injúria racial contra o atacante Allano, do Operário-PR, durante o jogo entre os times no último domingo, 4 de maio.  

A última prisão havia sido registrada em 2005, o primeiro confronto entre Quilmes e São Paulo, na Argentina, teve reclamações dos Tricolores por ofensas racistas. O time chegou a se desculpar com os brasileiros, porém, a situação se agravou no Brasil.

Na partida de volta, no Morumbi, o atacante Grafite acusou o zagueiro Leandro Desábato de tê-lo chamado de “negro de merda”. O argentino recebeu voz de prisão ainda no gramado. Encaminhado ao 34º DP, em São Paulo, Desábato ou 43 horas preso e só voltou à Argentina após o pagamento de 10 mil reais em fiança.

O advogado e ex-presidente da OAB, Renato Barros: “Não temos a cultura de combater os atos de injúria racial e de racismo”

SERVIR DE EXEMPLO - Comentando o assunto, o ex-presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), o advogado Renato Cássio Barros, afirma que se houve a injúria, foi um dever da arbitragem registrar o ato. “Como foi um caso de flagrante delito, o árbitro agiu corretamente. A prisão foi importante se constatado o crime. Não temos a cultura de combater os atos de injúria racial e de racismo”, ressalta ele.
Barros também espera que o caso do jovem boliviano sirva de exemplo. “Deve servir de exemplo. Infelizmente esta prisão acaba sendo uma medida pedagógica. A função da prisão é pedagógica e carrega um simbolismo importante. Afinal nossa sociedade não está educada, formada e letrada para combater o racismo ainda”, lamenta ele.
Para o advogado não pode abrandar a postura do Miguelito, afirmando-se que autores de crimes piores não são punidos. “Eu penso que esta relativização não pode ocorrer. Se ficarmos relativizando e comparando este fato a políticos que cometem crimes e não vão presos, estaremos incentivando a impunidade para os racistas. E incentivando até os atos racistas. Quando praticamos o discurso de que se ‘João faz’ e por isso ‘Pedro também pode fazer também’, você incentiva o crime. O discurso deveria ser ‘os políticos que cometem crimes também deveriam ser presos. A pena para alguém condenado por injúria racial é de dois a cinco anos. O juiz analisa as circunstâncias e, havendo a condenação o juiz faz a dosimetria da pena”, destaca Barros. 

A vereadora Larissa Camargo: “Apesar de estarmos cansados de nos deparamos com impunidade dos crimes raciais, todos os dias simplesmente pelo fato de estarmos vivos, temos que continuar resilientes”

VEREADORA CONCORDA COM PUNIÇÃO – Larissa Camargo (PC do B), primeira vereadora negra da história de São Carlos também concorda com a punição imposta a Miguelito. “Acredito que o juiz tenha agido corretamente, de acordo com o ‘Art. 2º-A Injuriar alguém, ofendendo lhe a dignidade ou o decoro, em razão de raça, cor, etnia ou procedência nacional’. Agiu corretamente também por trata-se de um crime individual, dirigindo a injuria diretamente ao atleta do time adversário. De acordo com a lei o acusado está sujeito à pena de reclusão, de 2 a 5 cinco anos e multa”, destaca Larissa. 

A parlamentar destaca que a impunidade reina no Brasil quando o tema é racismo. “Apesar de estarmos cansados de nos deparamos com impunidade dos crimes raciais, todos os dias simplesmente pelo fato de estarmos vivos, temos que continuar resilientes e acreditando que a justiça fará a parte dela”, reflete.

Ela espera que o fato tenha caráter didático. “Que esta atitude acertada da maior autoridade presente em uma partida de futebol, sirva de exemplo para que a estabelecer o respeito, repudiar e criminalizar todas as formas de discriminação no ambiente esportivo”, conclui. 

O jornalista Nei Santos: “O racismo não é uma forma de agressão que se manifesta do nada. Para haver racismo, tem que haver racistas”

RACISMO É UMA REALIDADE – O jornalista Nei Santos afirma que com relação à arbitragem, Alisson Furtado seguiu à risca o protocolo anti racista da CBF e da Fifa, que determina sinalização com os braços cruzados e interrupção da partida. Além de relatar na súmula, que houve caso de injuria racial. “O Jogador já foi liberado após a prisão em flagrante por injuria racial. Ele teve a liberdade provisória concedida e vai responder em liberdade. Se condenado pode pegar até cinco anos de prisão”, comenta ele. 

Para Santos, a questão do exemplo é relativa. “Já são de ampla divulgação, casos em que a questão do racismo no futebol teve punições a clubes. Nesse caso, a punição é ao cidadão, que não pode ter atos racistas. O campo de futebol não está imune a isso. Não é uma terra sem lei onde tudo pode. Neste aspecto pode haver uma contribuição dessa prisão para que todos pensem melhor nas atitudes”. 

Quanto a questão da relativização do crime, segundo Santos, é inegável que a sociedade brasileira é racista. “O racismo não é uma forma de agressão que se manifesta do nada. Para haver racismo, tem que haver racistas.  Para quem convém, sempre vai haver a comparação com outros crimes. Como se o racismo tivesse sempre uma justificativa para acontecer. Há duas formas de prevenção: a penalização, que é o caso; e a educação, que está longe de ser eficiente. Só lembrar que a lei 10.639, de 2003, que obriga o ensino de cultura afro-brasileira nas escolas, não é cumprida em várias unidades pelo país. Não há vontade política de modificar a situação”, lamenta ele. 

PRESO DEPOIS DO JOGO - O meia Miguelito, do América-MG, está preso em Ponta Grossa em razão do crime de injúria racial contra o atacante Allano, do Operário-PR, durante o jogo entre os times pela sexta rodada da Série B do Brasileiro neste domingo, 4 de maio. O caso foi testemunhado pelo volante Jacy, do Fantasma.
De acordo com a Polícia Civil do Paraná, após o término da partida, o autor, a vítima e a testemunha foram conduzidas por uma equipe da Polícia Militar até a sede da 13ª Subdivisão Policial. Após ouvir os envolvidos, foi dada voz de prisão em flagrante a Miguelito pelo crime previsto na Lei nº 7.716/89.
A Polícia Civil já estabeleceu contato com os canais de transmissão da partida, através do advogado do Operário-PR, para obter imagens que possam ter registrado a fala racista. O jogador do América-MG teria proferido a expressão "Preto do C*" contra o jogador do Fantasma.
O Inquérito Policial deverá ser concluído nos próximos dias sendo que a pena máxima prevista para o crime de injúria racial é de 5 (cinco) anos de reclusão.
A CBF, que ainda não se manifestou sobre o caso. O América-MG também não se posicionou oficialmente. No entanto, o presidente do Conselho de istração do Coelho, Alencar da Silveira Júnior, emitiu uma nota de cunho pessoal sobre o assunto (leia abaixo).

COMO OCORREU O FATO
A partida entre Operário-PR x América-MG, valia pela sexta rodada da Série B do Brasileiro e foi marcada por uma denúncia de injúria racial, feita pelo atacante Allano, do Fantasma, e que teria sido promovida pelo meia boliviano Miguelito, do Coelho.

Depois de ser procurado pelo jogador do Operário-PR e informado dos fatos, aos 30 minutos do primeiro tempo, o árbitro Alisson Sidnei Furtado utilizou o protocolo antirracista da Fifa e da CBF, sinalizando com os braços cruzados, na altura do peito, em forma de “X”. A denúncia de injúria racial deve constar na súmula do jogo.

A partida ficou paralisada por 15 minutos, com discussão entre os jogadores e a espera do árbitro para uma possível verificação de imagens, e foi retomada sem alterações ou cartão. Neste tempo, houve uma nova confusão, entre jogadores do América-MG e torcedores do Operário-PR que estavam atrás do banco.

Segundo o Operário-PR, um torcedor foi identificado por ter jogado um copo nos jogadores do América-MG e foi retirado por policiais militares.
A denúncia de Allano ocorreu aos 30 minutos. Após uma disputa de bola, os jogadores aguardavam a cobrança de uma falta lateral quando Miguelito virou em direção ao atacante do Operário-PR, que foi para cima do meia do América-MG, junto com Jacy, também do Fantasma, que estava próximo. Em seguida, eles foram até o árbitro para falar sobre o ocorrido.

Quando o jogo recomeçou, Allano recebeu amarelo por uma entrada mais forte em Miguelito. O jogador do América-MG foi substituído no intervalo.
Allano denunciou para a arbitragem falas racistas do camisa 7 do América-MG. O árbitro Alisson Sidnei Furtado acionou o protocolo de racismo, simbolizado por um X com os braços, e resolveu retornar a partida sem alterações.

Com a denúncia de racismo, a torcida do Operário mostrou indignação e, no momento, arremessou copo com líquido em direção ao banco de reservas visitante. O camisa 4 do América identificou e o torcedor foi retirado da arquibancada.
O Operário Ferroviário irá prestar todo apoio ao jogador Allano e lamenta a continuidade da partida sem modificações, uma vez que o protocolo foi acionado, e está buscando imagens claras que confirmem a alegação.

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