
A frota de veículos em São Carlos dobrou nos últimos 18 anos entre 2007-2024. ou de 103.666 para 207.294 veículos. São Carlos é a 25.a do Estado de São Paulo em número de veículos – que compreende automóveis, caminhonetes, motocicletas, ônibus, micro-ônibus, caminhões, tratores, entre outros tipos.
Sem aumento significativo de ruas e avenidas, o trânsito de São Carlos ganhou 103.628 novos veículos. Esse número explica enormes congestionamentos em determinados lugares da cidade tornando a locomoção mais demorada e cansativa.
No mesmo período 2007-2024, o número de automóveis, camionetes e camionetas cresceu 93% - ou de 78.165 para 151.045. O crescimento de motocicletas e motonetas cresceu mais: 116% - ou de 19.081 para 41.180. Em dezembro de 2024, o Estado de São Paulo tinha 34.332.819 veículos.
DESAFIOS GIGANTESCOS - O professor do Departamento de Engenharia de Transportes da Escola de Engenharia da USP São Carlos, José Leomar Fernandes Júnior, explica que São Carlos vive os mesmo desafios que as cidades grandes e até as médias com populações próximas a 300 mil habitantes enfrentam.
Segundo o especialista, existem duas referências principais. A primeira, segundo ele, é seguir o que aconteceu na Europa. A mobilidade urbana, de acordo com Fernandes Júnior tem que ar por uma alteração, com o transporte à pé ou de bicicleta não como forma de lazer, mas sim de se locomover para o trabalho, para as escolas e para os demais locais das atividades cotidianas.
“A minha geração viveu isso, íamos à pé ou de bicicleta para a escola. E também o transporte coletivo. Antigamente tínhamos, em Araraquara (e eu sou de lá) o trólebus que era o transporte silencioso, não poluidor e com o intervalo de dez minutos. A classe média de Araraquara e até pessoas mais ricas usavam este transporte em Araraquara. O plano de mobilidade tem que incentivar o transporte público e os meios não motorizados. É inegável a facilidade que proporciona um meio de transporte individual. Na Europa as pessoas têm carro, mas no dia a dia, usam transporte público que tem que ter qualidade”, ressalta ele.
CLASSE MÉDIA NO TRANSPORTE PÚBLICO - O professor alerta que para o transporte público atrair a classe média ele que cumprir rigorosamente os horários e oferecer qualidade, segurança e conforto. “Hoje, o transporte coletivo não tem atrativos nem para o pessoal de baixa renda, que não tem outra opção e acaba sofrendo. Então é necessário qualidade, segurança e o mínimo de conforto principalmente atender os horários e as necessidades. Este é um tremendo desafio, pois quando você tem uma qualidade inferior as pessoas tendo uma oportunidade, elas trocam o transporte público pelo transporte individual. Depois, para atrair este usuário novamente é muito difícil porque você tem um menor número de usuários, menor faturamento e precisa de um maior subsídio da Prefeitura”.
Fernandes Júnior explica que para o transporte coletivo voltar a ser atrativo, são necessários investimentos por parte da empresa concessionária sem a certeza de que vai atrair novamente o público. “O segredo do transporte público é que ele tem que ser vantajoso pelo menos para a classe média. Vamos esquecer as pessoas mais ricas. Mas se não tiver a classe média não tem o volume de tráfego para dar retorno e que também vai manter um número de viagens com pequeno espaço de tempo entre os principais horários que atraia os usuários. É um desafio absurdo que as cidades têm”.
O professor da USP destaca que o plano de mobilidade traz diretrizes. “Mas uma coisa é a gente saber o que tem que ser feito. A outra coisa é isso de fato acontecer. Temos que criar no Plano de Mobilidade uma maneira de entender as principais circulações. Não dá para ofertar mais vias. O importante é conter a demanda. Este é o raciocínio e não há milagre. Se não, você vai oferecendo vias, vai oferecendo vias e nunca vai conseguir suprir a demanda. Em Nova York, o número de pessoas que tem automóveis é baixíssimo. É tão complicado circular pelas ruas que o transporte coletivo é a opção. Então, São Carlos tem que entender isso e não é fácil”.
PENSAMENTO EGOÍSTA - Fernandes Júnior relata que o sonho do brasileiro é que muita gente use o transporte coletivo para que as ruas fiquem vazias para ele trafegar tranquilamente com seu carro particular. “É muito comum esta postura de querer que seu vizinho use o ônibus e que você continue no seu carro. Esta é uma postura egoísta que a gente não vê nos países que nos dão referência técnica desta área”.
Ele afirma que na Europa os homens públicos dão exemplo. “O primeiro ministro da Inglaterra anda de transporte público. Quem é representante do povo deveria usar o que existe para o povo, como transporte, segurança, educação, para poder analisar. Então, nada melhor do que o representante provar do que está sendo oferecido para ele sentir na pele e não ficar indo uma vez ou outra. É cultural que as pessoas que têm cargos públicos não usem os carros no dia a dia, seja na Noruega ou na Áustria onde eu fui professor. E algo que a pelo poder público, pelas pesquisas. O problema não é só de São Carlos, mas é necessária uma grande conscientização da população”.
FALTA DE PLANEJAMENTO - O presidente da AEASC (Associação de Engenheiros e Arquitetos de São Carlos), Laert Rigo, a falta de planejamento urbano e a expansão desordenada das cidades brasileiras têm contribuído significativamente para a sobrecarga de veículos nas ruas, resultando em congestionamentos frequentes e frustrantes, especialmente durante os horários de pico.
“Além disso, a dependência dos carros é influenciada por uma combinação de fatores, incluindo: Falta de investimentos em transporte público eficiente e ível; eficiências na infraestrutura viária, como ruas e avenidas inadequadas; crescimento desordenado das cidades, sem planejamento urbano eficaz e cultura de consumo e status social associado ao uso de carros, que perpetua a dependência dos veículos individuais”, destaca Rigo.
Segundo ele, para superar esses desafios, é fundamental que as cidades brasileiras invistam em soluções de transporte público eficientes, seguras e íveis, além de promoverem uma cultura de mobilidade sustentável e planejamento urbano mais eficaz. Isso, segundo Rigo, inclui: desenvolver sistemas de transporte público integrados e eficientes; implementar políticas de mobilidade sustentável, como bicicletas e pedestres; promover o planejamento urbano participativo e inclusivo e educar e conscientizar a população sobre a importância da mobilidade sustentável “Somente com uma abordagem integrada e eficaz podemos criar cidades mais sustentáveis, íveis e louváveis para todos”, conclui Rigo.