
O sol mal havia nascido na manhã desta segunda-feira, 21 de abril de 2025, quando o mundo recebeu a notícia que muitos temiam, mas poucos estavam preparados para ouvir: o Papa Francisco faleceu aos 88 anos, em sua residência no Vaticano. Ele partiu em silêncio, como viveu — sem pompas, cercado apenas dos mais próximos. Sua morte encerra um dos pontificados mais humanos, próximos e tocantes da história moderna da Igreja Católica.
No Vaticano, sinos dobraram. Em Buenos Aires, flores começaram a ser deixadas em praças. Na internet, uma enxurrada de mensagens. E em milhões de corações, uma mesma certeza: o mundo acaba de perder um homem que soube ser gigante por meio da simplicidade.
Francisco foi mais que um líder religioso. Ele foi um rosto amigo, alguém que, ao invés de condenar, estendia a mão. Que falava de amor antes de regras. Que caminhava entre os pobres, beijava os pés de refugiados, abençoava mães solteiras, abraçava ateus, lavava os pés de presidiários — e pedia orações, sempre.
Era como se dissesse o tempo todo: "a Igreja não é um tribunal, é um hospital de campanha". E era. Com ele, a cúpula da Igreja se abriu às dores do povo. Francisco não apenas pregava o Evangelho — ele o vivia com a doçura de quem acreditava que Deus mora nos pequenos gestos.
Nos últimos meses, a saúde de Francisco já dava sinais de fragilidade. A pneumonia que o acometeu em fevereiro exigiu internação por semanas. Ainda assim, em março ado, insistiu em voltar à Praça de São Pedro para rezar com os fiéis. E, na véspera de sua morte, apareceu pela última vez — fraco, mas com o mesmo olhar acolhedor — para dar a bênção de Páscoa.
Foi sua despedida silenciosa, como quem sabia que a missão estava cumprida.
A morte de Francisco tocou o mundo de forma rara. Chefes de Estado, artistas, ativistas e até líderes de outras religiões se uniram em luto. Mas foram os gestos dos anônimos que melhor traduziram seu impacto: velas acesas em favelas, cartazes escritos por crianças, orações em presídios, lágrimas em casas humildes. Francisco não foi apenas papa dos católicos — foi a voz dos esquecidos, o farol dos que viviam à margem.
Francisco será sepultado na Basílica de Santa Maria Maior, em Roma — longe das tumbas papais do Vaticano. Foi seu pedido. Nada de ouro, mármore ou homenagens grandiosas. “Quero descansar onde os peregrinos simples vão rezar”, disse certa vez.
Seu legado, no entanto, está longe de descansar. Está vivo em cada gesto de empatia que inspirou. Em cada porta que ajudou a abrir. Em cada dúvida que ensinou a acolher com ternura.
Francisco nos ensinou que a santidade pode andar de sapatos gastos, carregar uma mochila nas costas e sorrir com os olhos. Nos ensinou que a Igreja deve “sujar os pés” para caminhar com o povo. Que há mais fé em uma lágrima sincera do que em mil discursos. Que o amor — no fim — é a maior teologia.
Hoje, o mundo e principalmente o povo português se despede de um papa, mas guarda no peito a memória de um irmão que pisou as terras Lusitanas espalhando Fé e Amor.
Que Descanse em Paz...
(Rui Sintra - membro do Conselho da Comunidade Luso-Brasileira do Estado de São Paulo - CCLB)