
Segundo ela, a transposição do mundo virtual para o real pode gerar frustrações, pois é bastante comum as pessoas se preocuparem com a imagem quando não se tem os recursos utilizados no ambiente virtual, o que leva muitas pessoas a adquirirem grandes dificuldades com a auto imagem e auto estima.
A psicóloga afirma que maior seletividade e também superficialidade, uma vez que esses aplicativos dão ‘um certo ar de catálogo’ o descarte também pode ser rápido, uma vez que a quantidade de pessoas pode levar a maior banalização das conversas e desistências rápidas.
“Por outro lado, os aplicativos permitem expandir as possibilidades de conhecer pessoas que antes não seria possível, mas temos de considerar sempre o tempo de conversa, o teor do diálogo para que se possa chegar ao encontro real, o que muitas vezes não acontece, sem contar que a possibilidade de enviar instantaneamente mensagens, pode desencadear crises de ansiedade se a pessoa demora a responder ou mesmo não responde”.
Ela explica que os aplicativos funcionam como uma porta de entrada para uma relação que se estabelece inicialmente virtual, mas ao modo que se estabelece confiança ele a para o encontro presencial, então sim, é um facilitador em muitos casos. “Pode também servir aqueles que buscam amizades, geralmente pessoas inibidas e com dificuldades de fazer amizades buscam essa forma de se relacionar afetivamente e emocionalmente com outras pessoas e isso pode ser um agente facilitador e transformador de pessoas que tem grandes inibições”.
INTERAÇÃO INEVITÁVEL - A interação entre redes sociais e aplicativos de namoro também foram comentados pela psicóloga. “Ambos estão interligados e migrar de um aplicativo de relacionamento para redes sociais amplia a possibilidade da pessoa saber mais sobre a outra e assim se sentir um pouco mais seguro, além de dar a sensação de importância àqueles que migram para a rede social, aumentando o nível de compartilhamentos e conhecimentos sobre os envolvidos e assim é quase um rito de agem, como que um sentimento de aprovação, de avanço de etapa até chegar ao WhatsApp o que aumenta a possibilidade de concretização de encontros”.
Sobre a inteligência artificial e sua possível influência nos relacionamentos humanos, a especialista afirma que é ela, a IA, ainda é algo muito novo ainda. “Não podemos prever as consequências, mas devemos ter em mente que a química, não só de palavras e olhares é essencial para que uma relação aconteça. Somos seres de relação e o uso da IA, pode ser bastante perigoso, uma vez que ela pode ser usada para se criar uma imagem fictícia, enganosa e trazer muitos problemas”.
Aleksandra acredita que certos ritos são insubstituíveis e inevitáveis. “Nada é ível de substituir um abraço, a química é essencial e embora a IA seja capaz de criar e melhorar muitos cenários, ela não tem o poder de transpor algumas necessidades que nós temos para escolher um par. A presença é importante, o abraço, o cheiro, o beijo, o modo de se relacionar sexualmente e isso não é possível de sentir do outro na tela e nem transpor. Penso que é como ver um anúncio de um perfume que não se conhece e você tem a imagem, o nome, a marca, mas desconhece o aroma”.
Ela vê claras diferenças entre a comunicação presencial e on-line para a qualidade das relações. “Pessoalmente, você tem a possibilidade de presenciar a interação da pessoa com o ambiente em que ela está. No virtual, esse ambiente é controlado, é íntimo e acontece entre duas pessoas, enquanto que no presencial, outras pessoas podem interagir junto aquela pessoa”.
Ela destaca ainda que no discurso virtual o ambiente é controlado e é mais confortável, você observa a pessoa em um único contexto, o que se conclui que tem- se uma imagem resumida da pessoa e muitas vezes é mostrado somente o que se quer. “No discurso presencial você tem uma comunicação completa em todas as suas modalidades: verbal, não verbal, linguagem corporal, expressão facial, componentes essenciais na compreensão mútua e identificação da química e além disso, na comunicação presencial o relacionamento tende a seguir um caminho natural, onde os encontros e atividades conjuntas acontecem”.
MOMENTO DE FRAGILIDADE NAS RELAÇÕES HUMANAS - A psicóloga comenta que estamos vivendo um momento de muita fragilidade nas relações humanas, onde pessoas estão se disponibilizando viver relações com bonecos de plástico a viver uma relação real, com todos os desafios que um relacionamento possui “Pessoas que se dizem noivas e noivos de bonecos, robôs virtuais e mais recentemente bebês de plástico, o que do ponto de vista da saúde mental é extremamente preocupante, uma vez que não se pode estabelecer uma relação recíproca e verdadeira com tais objetos. O adoecimento está no rompimento da realidade para viver um mundo criado, artificial, controlado e vazio. “A saúde mental está frágil e talvez esse seja um reflexo pós pandemia e com certeza será um novo desafio para a saúde mental mundial”, conclui.
TECNOLOGIA NO COTIDIANO - A socióloga Aline Zambello afirma que a tecnologia está incorporada à vida atual e não haveria como ficar fora do contexto dos relacionamentos humano. “Hoje se utiliza internet e outros meios tecnológicos para trabalhar, estudar, pagar contas e etc. Os relacionamentos fazer parte do cotidiano e da sociedade. As pessoas acabam conhecendo pessoas de várias cidades sem a necessidade de viajar para outra localidades. Os aplicativos ampliam as possibilidades”.
Ela aposta que o flerte tradicional não vai acabar. “Se consideramos que o flerte tradicional é a primeira abordagem, o primeiro diálogo, a verificação de contabilidade, os aplicativos fazem uma substituição parcial. As pessoas têm que se comunicar e para isso não há substituição”.
Segundo ela, os aplicativos trouxeram novas possibilidades para pessoas quem se relacionam com pessoas do mesmo sexo. “Neste sentido, facilita porque as pessoas acabam conhecendo pessoas que têm os mesmos interesse e se identificam. Como toda tecnologia pode abrir espaço para pessoas má intencionada, mas isso não se restringe a aplicativos de namoro”.
Segundo ela uma boa parte da vida das pessoas atualmente ocorre pelas redes sociais e pela internet. “Estes aplicativos estão se tornando hábito inclusive de pessoas mais velhas. Muitos são divorciados, viúvos ou viúvas que querem amar novamente”.
APLICATIVOS E RELACIONAMENTOS HOMOAFETIVOS - A psicóloga Aleksandra Lopes ressalta que para as comunidades LGBTQIA+, os aplicativos de namoro podem ser ferramentas poderosas na exploração da identidade e conexão além de seguro quando pensamos em uma sociedade normativa e hostil para com esses grupos.
“O compartilhamento de experiências nesses grupos, assim como as trocas de pensamentos e ideias também pode se fazer presente no mundo virtual, como a expansão das conexões e criações de grupos que pensam em formas de melhorar a qualidade de vidas da e de relacionamentos. Isso, é essencial para a saúde mental e o bem estar em especial de jovens que não tem abertura para conversar em família. Em se pensando nos pontos negativos, a hostilidade e crimes de ódio podem se fazer presentes, além dos perfis fakes que podem representar armadilha e perigos para a comunidade”, alerta ela.
A socióloga Aline Zambello afirma que os aplicativos de namoro trouxeram novas possibilidades para pessoas quem se relacionam com pessoas do mesmo sexo. “Neste sentido, facilita porque as pessoas acabam conhecendo pessoas que têm os mesmos interesse e se identificam. Como toda tecnologia pode abrir espaço para pessoas má intencionada, mas isso não se restringe a aplicativos de namoro. Ela afirma que no mundo pré-aplicativos, os homossexuais tinham que primeiro conhecer a orientação da pessoa que desejava conhecer.
*Nomes fictícios a pedido dos entrevistados